Conheça o livro: "Crônicas"

ORGANIZAÇÃO E ORIENTAÇÃO:
PROFª. MARIA VIONEIDE LINHARES

Dedicatória:
Este trabalho foi feito para registrar a
nossa participação na Olimpíada de Língua
Portuguesa- Escrevendo o Futuro/2010, com os gêneros: CRÔNICAS E MEMÓRIAS LITERÁRIAS , sendo o último, responsável pelo título de Semifinalistas e melhor Relato de Prática do Nordeste I.
Dessa forma, dedico este trabalho a todos
os meus colegas professores e alunos do 9º ano desta escola.

Apresentação:
Notícia ou texto literário? Por apresentar múltiplas
facetas, mais do que um gênero textual, a crônica
traz um olhar particular. Ao recortar cenas do
cotidiano, o autor ilumina situações, fatos,
dando-lhes destaque, atribuindo-lhes um novo
sentido. O que poderia passar despercebido
torna-se encantador, envolvente, surpreendente,
marcante. Ao contrário do que parece, a criação
de uma crônica não é tarefa simples. Construir um sensível olhar pensante, selecionando e amarrando
os detalhes, é o primeiro passo para elaborar
um texto interessante que transporta o leitor
para a perspectiva do escritor.Sensações,
observações, lembranças e casualidades se misturaram: nossos jovens cronistas identificaram personagens pitorescos, construíram novos
sentidos para experiências cotidianas e passaram
a valorizar o lugar onde vivem. Os alunos aceitaram
o desafio de trazer fragmentos da realidade e
do cotidiano para serem transformados em palavra
escrita. Ao ler essas crônicas, você terá a
oportunidade de conhecer um pouco do modo
de ser e viver do nosso povo, através das lentes
de alunos do 9º ano, da Escola Estadual Dr. Xavier Fernandes, sob a orientação da professora
Maria Vioneide Linhares.


UM PASSEIO INESQUECÍVEL
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Aluna: Sandrileuza Etelvina da Costa


Aquele não era um sábado como qualquer outro, eu estava cheia de alegria e boas expectativas para aquele dia, além é claro, de muito ansiosa. Estava esperando minhas amigas que viriam de Fortaleza para minha casa.
Elas estavam cheias de energias e queriam conhecer todas as belezas, das quais eu tanto falava. Foi fácil fazer toda a programação. Não podíamos perder tempo e energia era o que não nos faltava. Começamos pelo Santuário do Lima, o ponto turístico mais lindo e radiante da nossa pequena Patu, com uma serra maravilhosa que atrai olhares e admiração de quem a visita.
Uma paradinha e pudemos admirar a cachoeira que de longe dava pra ouvir as pancadas da água nas pedras. Aquilo era música pros meus ouvidos. Chegando lá, elas puderam admirar a beleza da arquitetura exuberante da igreja em forma de cone, tocar as águas frias, represadas na barragem que mais pareciam nos convidar para um mergulho, mas a placa era categórica: “Proibido tomar banho!” Ainda saboreamos aquela comidinha caseira nas barracas e as meninas compraram lembrancinhas religiosas para os familiares. Estavam deslumbradas, alegres e satisfeitas com o passeio. Fizeram várias fotos para guardar de recordação. Queriam lembrar-se da pequena cidade magnífica, onde se divertiram muito.
No dia seguinte fomos contemplar outra paisagem extraordinária, o “Pelado”, um lugar bonito e cheio de aventuras. Nossa subida foi muito cansativa e demorada, mas enfim conseguimos chegar, apesar do cansaço, apreciamos a beleza daquele lugar. Estávamos sobre um manto rochoso, liso e escorregadio e para escalar aquele lugar usamos pés e mãos, mas o esforço valeu a pena. Dali, podíamos ver tudo pequenino, uma sensação extraordinária. Aquela visão era impressionante.
Aquele dia foi espetacular, muito especial, daqueles que a gente não esquece nunca. As visitantes comentavam sobre as maravilhas daquele lugar com o rosto radiante de felicidade e emoção. Queriam ficar mais tempo, mas tinham que ir embora. Foi um final de semana daqueles que duram pra vida toda.



A CARREATA

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Aluna: Eva Débora de Andrade


No sábado de cidade pequena, as pessoas acordam bem cedo e vão pra feira de verduras que fica bem no centro. Na minha cidade é assim. Mas nesse dia, ainda bem cedo, quase de madrugada, podíamos ouvir o barulho dos carros de som e fogos de artifícios bombardeando a cidade, anunciando que o período de eleição havia começado.
E foi o dia todo assim. Essa é minha cidade. Se tiver passeata, o povo não deixa de ir. Tratava-se de uma manifestação política marcada para tarde, já que os candidatos iam passar por outras cidades.
Chegou a hora marcada para a “bendita” carreata passar e o povo corria para a avenida, para ver os “tão esperados” candidatos. Em cidade pequena do interior do Nordeste, como a nossa, é comum ter só uma única avenida principal, dessa forma toda movimentação, seja de carro, motos ou mesmo a pé, se dá por única via. E lá estava a vizinhança toda junta, pra ver passarem os candidatos e toda sua equipe exibindo simpatia e até beijinhos, coisa de campanha mesmo. É claro que eu estava lá também.
Quando finalmente a carreata passa, a avenida é tomada pelos carros que mais parecem alegorias de carnaval. São cartazes exibindo fotos dos candidatos, bandeiras e o uniforme de uma única cor, indicando o partido político. Nesse momento, o povo grita, pula e faz a festa. O mais interessante ainda estava por vir. Já estava terminando a carreata, quando passa uma equipe de reportagem, entrevistando as pessoas. Elas gritavam, sorriam, pulavam e corriam para aparecer na televisão. Essa equipe deixou o povo mais feliz e animado.
As pessoas do interior se alegram até com uma carreata, afinal quem não gosta das eufóricas manifestações políticas?




A CRÔNICA


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Aluna: Rita de Cássia Jales Cordeiro


Tudo começa bem assim... De manhã bem cedo, me levantei para ir à escola, como estou acostumada a fazer quase todos os dias da semana. Escovei os dentes, tomei banho, lanchei e me arrumei para sair. Quando estava a caminho, encontrei minha amiga Cristina. Conversamos sobre várias coisas, enquanto caminhávamos, inclusive sobre as aulas de português. Ela me dizia que não estava gostando das aulas em que a professora trabalhava crônica. E eu sem ter a mínima ideia do que dizia, afirmei que não tinha a menor graça mesmo.
Ao chegar à escola, fomos logo para a sala de aula. E foi ai que nos disseram que a professora de português havia pedido para os alunos se dirigirem à sala de vídeo. Lá estava ela, diante do computador ligado ao datashow. Disse que íamos fazer juntos, uma crônica. Isso gerou certa agitação, mas logo começamos. No inicio tivemos dificuldades, mas ela foi nos conduzindo com perguntas, nos ajudando a arrumar um jeito novo de dizer, pedindo detalhes e emoção em nossas descrições. Cada aluno dizia uma frase para o texto e assim, pouco a pouco, as nossas palavras e frases foram se transformando numa bela crônica.
E dessa forma percebi, que escrever crônica não era tão ruim assim. Pelo contrário, era uma tarefa bem interessante e bastante divertida, pois estaríamos dando vida a situações do nosso cotidiano.
Agora era minha vez. Precisava escrever uma crônica que retratasse o lugar onde vivo, mas como fazer isso? Até aquela aula eu não andava por ai com olhos de escritor. É... Dizem que o pior cego é aquele que não quer ver. Só aproveito um pouco a minha juventude. E não é comum, com a minha idade, sair por aí, sem prestar atenção em nada? Comigo acontece assim. Parece até que o mundo para só pra mim.
Ah! Quanto ao lugar onde vivo? Sou uma perfeita representante dele. Nasci aqui, sempre morei aqui. Nem conheço outros lugares. Somos ele e eu – o lugar onde vivo: tranquilos, simpáticos, acolhedores e com uma imensidão de mistérios a serem desvendados.



O ARRAIAL DO XAVIER

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Aluna: Cosma Matias da Silva


Aquele sábado prometia. Todos do Xavier, escola onde estudo se organizava para o arraial que seria na Boate.
Tratava-se da festa junina tradicional nas escolas da minha cidade e que aconteceria numa casa de festas, bem conhecida por todos da cidade como “Boate”. É que nos finais de semana, os proprietários a transformam em uma boate, com som bem potente, com jogo de luz que agrada a turma jovem da cidade e o didjey Mickel faz a diversão com sua seleção de músicas eletrônicas, mas vez por outra o espaço é cedido às escolas para eventos.
Naquela manhã, os professores estavam enfeitando o local, que começava a ganhar um clima festivo com a cara dos tradicionais arraiais daquela cidade. Alguns dos alunos ensaiavam para apresentação que seria logo mais a noite, com quadrilhas juninas, comidas típicas e muitas surpresas. Os alunos da quadrilha “Tradição Potiguar”, e o grupo de dança “Aflorarte”, estavam ansiosos para o momento da apresentação. Era possível perceber pelos olhares daqueles jovens, o quanto estavam nervosos e agitados.
É chegada a grande hora! Os alunos se sentiam muito bem apesar do nervosismo. O local estava muito bonito e enfeitado com palhas, bandeirolas e balões. A criançada fazia a festa com a pescaria e seus pais saboreavam pamonhas, canjicas e outras comidas típicas daquela festa. Todos aguardavam ansiosos para ver os grupos de dança.
Confesso que nunca tinha visto tanta gente. O espaço reservado para as apresentações era o único vazio naquele momento. A plateia cercava aquela área com olhos bem atentos para avaliar nossa desenvoltura. Nada podia dar errado naquele momento.
Enfim chega a nossa vez. Fizemos uma entrada triunfante que arrancou aplausos e gritos. Dançamos ao ritmo agitado das músicas regionais com passos firmes e roupas coloridas. Nos saímos muito bem. O povão deu demonstração de que havia gostado. Naquele momento a sensação era só alegria. Depois de tudo, era só curtir a festa.



ROSAS VERMELHAS

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Aluna: Maria Lara Alves Rocha


Era sexta-feira... Sem nada para fazer decidi sair para dar uma volta na cidade. Digo cidade porque onde moro é tão pequeno, que dá mesmo para circulá-la num passeio de moto ou de carro. Em meio ao caminho, decidi ir até a praça onde muitas pessoas costumam se reunir para conversar. Ponto de encontro dos jovens, lá é mesmo o point da galera. Pequena, sem muitos atrativos, alguns bancos de alvenaria e umas poucas plantas ornamentais, sofridas pela ausência da água, fato muito comum em nossa cidade. A pracinha que guarda muitos segredos é o palco das paqueras de jovens como eu.
Chegando lá, andei um pouco e fui até o carrinho de cachorro-quente que ficava logo ao lado. Sentei em uma das mesas desocupadas e pedi um lanche. Não tinha fome, queria mais um lugar pra sentar. Fiquei ali, quieta, esperando enquanto observava as pessoas que transitavam de um lado para o outro. Foi quando um casal de namorados bem ali, na minha frente, me chamou atenção. Passei certo tempo observando para compreender os fatos.
Depois de um tempo, ele saiu e a deixou, sozinha. Pensei que tivessem brigado, mas logo percebi que estava enganada. Não demorou e o jovem rapaz trazia em suas mãos uma caixa de bombons e um buquê de rosas vermelhas. Entregou-lhe e a beijou levemente os lábios. Ainda murmurou palavras doces ao seu ouvido. Tratava-se do aniversário de um ano de namoro.
Não sei exatamente qual o momento que mais me chamou atenção, mas confesso que pensei estar vivendo em outra década ao observar a atitude daquele jovem que não aparentava mais que 20 anos. Estava diante de um homem gentil, educado, característica típica dos homens de antigamente, como dizia minha avó: “Ah! No meu tempo os rapazes eram cavalheiros, viviam presenteando suas namoradas, muito diferentes dos de hoje em dia, que são rudes, não tem modos de se relacionar, não há mais respeito”. Minha avó tinha razão. Nenhuma das meninas que conheço, tiveram o prazer de ganhar flores. Confesso que gostei daquilo.
Decidi parabenizá-los. Notei que ali a felicidade estava transbordando. O amor era a chama que os aquecia. Voltei ao meu lugar. Precisava pagar ao rapaz do carrinho de lanches. Fui para casa lembrando o que havia visto, totalmente maravilhada, pois pensei que nunca fosse ver uma cena igual. Não na minha pequena cidade.



O GRANDE ENCONTRO

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Aluno: Bruno José Alexandre


O Santuário do Lima estava em festa. A alegria contagiava os coroinhas de nossa cidade que estavam muito ansiosos por esse momento, pois era a oportunidade de ver todos os grupos de outras cidades.
Meu coração quase sai pela boca. Eu ia poder voltar àquela beleza de lugar e ver a maravilhosa paisagem que exibimos como troféu para os que vêm nos visitar.
Caminhamos muito, todos estávamos ansiosos para chegar àquele lugar exuberante. Depois de muito andar sem conseguir nenhuma carona, surge um ônibus e o motorista penalizado nos leva até o santuário.
Chegando lá, precisávamos reunir todo o grupo, o que não foi fácil. Depois de algum tempo, estávamos todos envolvidos pela banda da igreja que tocava e cantava animando o louvor dos coroinhas da região.
Após aquele momento, seguimos para a igreja onde seria celebrada a missa. O lugar estava aconchegante, embora estivesse muito apertado. Dentro da igreja formávamos um grande circulo, é que ela tem em sua estrutura a forma circular, afunilando-se em cone. Não bastasse o formato, as luzes que acompanham o teto lhe dão um aspecto de astronave.
As luzes acesas refletiam a suavidade das cores que haviam ganhado em poucos dias. O altar ornamentado com tecidos brancos era a representação da pureza daquele momento. Ali as brincadeiras de menino deram lugar a um momento de oração.
Era chegada a grande hora. Faríamos todos juntos, um passeio até o mirante. Esse momento foi marcante para mim e encantador para os nossos visitantes. Ali éramos meninos de verdade. Corremos, brincamos, conversamos, fizemos novas amizades. Desvendamos cada centímetro daquele lugar: as pedras enormes, árvores antigas, riachos e a barragem. A sensação de liberdade se unia àquela pureza. Exibíamos com orgulho as maravilhas da nossa cidade. Lá do alto tudo parecia minúsculo. Era possível ver toda a cidade.
Aquela foi uma experiência maravilhosa.



O PARAÍSO ABENÇOADO

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Aluna: Clarice Gomes da Silva


O sol raiava anunciando um novo dia. Estava esperando este momento, fazia poucas semanas que eu tinha me mudado para esta cidade. Já haviam me falado do paraíso existente aqui. Fiquei ansiosa para conhecê-lo. Chegou, então, o grande dia. Acordei bem cedo, para com minha família ir visitá-lo. Fomos de carro até uma parte do caminho, quando, para nossa surpresa, vimos àquela gigantesca serra, bastava apenas um olhar para nos deixar extasiados. Subimos com muita ansiedade, pois não podia imaginar como seria aquele maravilhoso santuário.
Ao chegarmos, parei para apreciar aquele momento, fechei os olhos e podia sentir o cheiro das flores, ouvir os passos firmes das pessoas que caminhavam em sua direção ao mesmo tempo em que soava o canto distante dos pássaros. Foi a primeira vez que pude sentir a natureza. Encantada com tudo aquilo, me deparei com a coisa mais linda de tudo que já havia visto: uma igreja enorme em formato de cone gigante. Atravessei um corredor fechado que dava acesso a uma área aberta, que exibia nitidamente a natureza. Ali pessoas transitavam de um lado para outro. Pequenas barracas improvisadas deixavam a mostra brinquedos e artigos religiosos, que eram comercializados, além das comidas que exalavam um cheirinho agradável.
Segui por outro caminho que me levou até a barragem com suas águas límpidas e represadas, diante dela um casebre indicava o quanto aquele lugar era antigo. Pensei: “Será que alguém já morou nesse paraíso?” Caminhei curiosa e pra minha surpresa dali podia ver uma paisagem magnífica da cidade que acabara de me acolher. Sentei-me e fiquei emocionada vendo tudo aquilo. Refleti sobre a minha vida e percebi o quanto tinha para aprender e que a vida tinha muita coisa para me ensinar. Passei então a explorar e admirar esta linda pequena cidade localizada bem ao pé da serra.
E aqui passei muitas e belas emoções.


VENTO SÓ DA GENTE

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Aluna: Raquel Alves Gomes


Já não é nenhuma novidade acordar com o ranger das portas de casa antes mesmo de amanhecer o dia. Ranger esse causado pelo vento forte que ronda por aqui nesta época do ano, entre os dias quentes de agosto e setembro.
Chega a ser até engraçado. Com esse vento bem nosso, as mulheres passam o dia disputando um lugar nos salões de beleza. É que bem nesse período temos uma festa tradicional, a Feira da Cultura. É verdade que elas aproveitam para fazer aquele ti-ti-ti pra botar os assuntos em dia. Coisa de cidade pequena.
E quando chegam à festa, vem uma ventania e assanha o cabelo todo e bagunça a roupa. Há até quem diga que o vento é macho. Quando ele vem não avisa, nem manda recado. Chega levantando os vestidos das meninas e tira risos dos meninos com isso.
A cada rajada de vento que passa pela casa, é menor a chance de prolongar a hora de acordar, mas é incrível como para algumas pessoas isso é desculpa para ficar dormindo até tarde.
Mesmo com tanta ventania, podemos ouvir as pessoas nas ruas ainda bem cedo, saindo para o trabalho ou levando a criançada entusiasmada para a escola, ou até mesmo ouvir as mulheres varrendo o terreiro de casa, coisa do cotidiano da minha cidade.
Aqui nada abala nosso povo, que acima de tudo, tem coragem, determinação e orgulho do lugar onde vive.



SETEMBRO
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Mônica Silva


Setembro no calendário. Ao lado da Igreja Matriz o palco está montado, onde logo mais se apresentarão as grandes atrações: cantores, repentistas, humoristas, grupos de dança e de teatro, farão assim, sorrisos e gargalhadas surgirem nos rostos dos filhos e visitantes dessa cidade. Claro que não pode faltar a alegria e devoção dos fiéis que por suas graças alcançadas ou para momentos de orações, chegam para as novenas, bem antes do show começar.
Já posso imaginar as crianças correndo e brincando no parque, adolescentes e adultos dançando e namorando, afinal é uma festa onde todos se divertem.
É festa para a família toda. A diversão é garantida e é a oportunidade de admirar as belezas desse povo. As artes se misturam em suas mais diversas formas e cores. A prova disso são as exposições que fazem das tendas alvo de olhares e empolgação.
É inevitável. Guardei na memória com maior zelo e carinho, embrulhada em papel de presente, a imagem de uma grande festa, que acontece sempre no mês de setembro, na minha querida cidade. Festa que me traz muita alegria, sinônimo de felicidade, pois nela vejo a hospitalidade, a euforia do povo simples e festeiro.
Confesso que nunca havia visto uma gente, com tanto carinho pelo seu povo.




GABRIELA

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Francisco Guesrasberg Pereira Dantas


Quando saí de casa, vi aquele movimento pelas ruas, tinha mais gente de moto e de carro do que nos dias comuns. Era muita gente. Não sabia do que se tratava, mas devia ser algo muito interessante, para reunir tanta gente assim. O barulho vinha do meio da multidão. Eu fiquei ali olhando como quem não queria nada. As pessoas aos poucos foram se afastando. Vi um homem de roupa e chapéu coloridos.
Quando me dei conta, era o único ali parado. Não perdi tempo, fui correndo atrás da multidão. Foi quando percebi que aquele desfile tinha chegado ao fim.
Mas ela ainda estava lá, exuberante e com um sorriso radiante, parecia agradecer a todos que lhe prestigiava. Imponente, a boneca Gabriela estava ao lado de Câmara Cascudo. Seu rosto gigante girava de um lado para outro, no compasso daquele jovem magrelo, que mesmo cansado, a erguia como um troféu. Parecia conhecer o valor cultural e emocional daquela boneca.
Naquele instante o cavalinho e outras personagens se desfaziam e de dentro deles, saiam meninos com o corpo ensopado de suor, mas o brilho dos olhos demonstrava a satisfação do trabalho realizado.
Curioso, eu queria saber quem era o dono dos bonecos gigantes. Responsável por toda aquela euforia, João de Arthur acenava num gesto de gratidão. Ele mesmo, um homem simples, pequeno na altura, mas grande no amor pela arte. Apesar da idade avançada, ainda fazia aquela festa toda.
Seu sorriso demonstrou uma emoção muito grande, daquelas que não tem como descrever com palavras. Compreendi que não precisa ser jovem para sentir-se feliz. A paixão e o amor pela arte é o que dá sentido a vida desse típico homem patuense.



A PELADA

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Gilnê Rodrigues da Silva

Sabe aqueles dias em que tudo o que você quer é ficar deitado, sem nada para fazer? Era domingo, nada de escola, ou qualquer trabalho. Queria mesmo era descansar, relaxar, esquecer do corpo, dos pensamentos e até dos outros.
Minha privacidade foi arrebatadoramente invadida, quando de supetão tive que me levantar, ao som rude da voz desajeitada do meu primo, aquele fominha por bola. Fazer o que? Tive que trocar de roupa e sair em busca de diversão. Tenho que confessar que bola é meu fraco.
Quando chegamos lá os meninos estavam jogando. Tivemos que esperar. É sempre assim e nos domingos fica ainda mais difícil conseguir uma brechinha pra se encaixar no jogo. O campinho havia sido improvisado, mas já ganhara fama e lá não tinha dono, era de quem chegasse primeiro. Não tinha essa de chuteira, era de pé no chão mesmo. Só não podia faltar a bola.
Começamos o jogo debaixo de um sol escaldante. O suor que descia no rosto dificultava a nossa visão, mas lavava a nossa alma na hora de vibrar um gol feito com garra.
De longe se podia ouvir gritos e reclamações. As discussões tornavam-se frequentes e quentes como os raios de sol daquela manhã, mudando o destino daquele jogo. Qual é o jogo que não tem provocações?
Só não esperávamos que terminasse numa confusão daquelas. Embora o campinho ficasse distante das casas, temíamos que a polícia fosse chamada por alguém numa daquelas ligações anônimas.
_ Não tenho medo de você, idiota. Dizia um deles.
_ Eu é que não tenho. Respondia o outro.
Entraram no tapa. Não tínhamos outra opção. Era preciso acabar o jogo ou terminaríamos no xadrez.
É comum acontecer essas confusões nos jogos. Os moleques tem pavio curto e por qualquer bobagem querem se pegar, mas sempre acaba tudo bem e quando passa aquele momento do jogo, a amizade é a mesma.



NAMORO NO PORTÃO

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Exlley Clemente dos Santos


A sirene havia soado dando sinal de que o intervalo devia começar. Hora de descanso, uma paradinha para o banheiro, merenda e quem sabe, um bate papo. A verdade é que naquele dia eu não ia poder fazer nada disso. Precisava terminar uma atividade. Permaneci ali, na sala, sozinho, envolvido com o que fazia, nem mesmo o barulho das crianças correndo nos corredores roubavam minha atenção.
Uma cena, nada inusitada, desvia meu pensamento. Um dos portões da escola, que permite a visão da rua, fica bem em frente a minha sala, isso se falarmos do ângulo em que estava sentado.
Duas meninas pareciam não se preocupar com a presença dos outros alunos que transitavam por ali. É que no intervalo a criançada varre toda a área disponível numa euforia típica de quem tem mesmo muita energia.
Elas pareciam aguardar alguém. Era isso mesmo. Não demorou, chegaram dois garotos de bicicleta, pararam bem juntinho ao portão. Elas se aproximaram mais ainda. Nem mesmo os ferros do portão impedia a aproximação entre seus corpos.
Um dos garotos tentou beijar uma delas, mas a menina esquivou-se, colocando a mão na boca, impedindo que acontecesse o beijo. Ela olhava em direção ao bloco administrativo da escola. Temia ser vista por alguém.
Enquanto isso, a outra ainda menor, aparentando nada mais que 12 anos, estava aos beijos com o outro garoto como se ninguém testemunhasse aquela cena. Foram interrompidos pela sirene que insistentemente tocava anunciando que o intervalo havia terminado. Elas se despedem e saem radiantes. As duas parecem dividir as emoções, deviam comentar do que aquele momento tinha representado para elas.
Por um instante pensei como reagiriam seus pais se soubessem daquilo. Teriam permissão para aquele namorico ou estariam aproveitando a oportunidade, longe dos olhos enciumados e cuidadosos dos pais?
É, mas que adolescente não tem uma historinha dessas para contar? Afinal, na escola conhecemos gente nova, fazemos amizades e uma paquera também é possível.