terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Uma mensagem para este ano que começa...

Guardar e não guardar
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Fernando Brant

Guarde no aposento mais claro de sua alma os pequenos e os grandes momentos de sua vida. A primeira vez que o abraço da mãe e o sorriso do pai ocorrem em sua lembrança. As brincadeiras infantis, os jogos aprendidos em casa ou na rua, a descoberta do outro, o amigo. Cuide com carinho da alegria de ver seu irmão protegendo você dos moleques mais velhos e fortes.
Proteja, de todos os calos que o tempo e a idade vão lhe impondo, aquela sensação do dia em que você reencontrou aquela moça, aquele moço, depois que já era evidente que seu coração estava apaixonado e conquistado. Zele pelos primeiros dias, os dias em que nasceram seus filhos e filhas, essa aventura impossível de descrever, a ternura tomando conta de você, agora o ser mais importante e responsável do universo.
Atente para o caminho de felicidade que você construiu ao lado dos que você ama, os da casa original e os do teto que você edificou. Vigie para que não lhe fujam todas as confraternizações, todos os gols comemorados juntos e até a tristeza e melancolia sofridas coletivamente.
Fique de olho para que não se perca a memória daquela época pobre e difícil, em que o pão era pouco para tantas bocas, mas o casal alimentava a todos e ainda providenciava educação de qualidade, salvo conduto para que todos tivessem, no futuro (hoje), um destino digno.
Não guarde mágoa. Não faça de um instante menor uma calamidade existencial.
Não fique remoendo impressões pessoais sobre um determinado acontecimento, como se a sua fosse a única verdade. Para que acordar na noite com pesadelos se algumas simples conversas com os protagonistas de sua angústia poderiam levar a um caminho menos obscuro? A raiva só faz mal a quem a possui, a quem a carrega no peito. Fechar-se em fortaleza de solidão só lhe trará prostração e abatimento. Escancare a humanidade que você traz consigo, fique leve, flutue, volte a conviver. “Carinho que eu fiz não vai virar espinho.”
Não guarde esse cofre de infelicidade. Vire a chave desse baú. Abra sua emoção e suas palavras, ouça.
Como diz o poeta Ferreira Gullar: “eu não quero ter razão, eu quero é ser feliz.”
Meu conselho de amigo e irmão: não guarde, jogue fora a ideia fixa que o infelicita e entorpece. Guarde e use a serenidade, o bom senso e a compreensão. Aí você será, de verdade, como quer o poeta, feliz.